Golpe

Sequestro do Pix: vítima ficou 8 horas na mata em poder de bandidos

Mulheres tiveram todos os pertences levados

Durante o sequestro, os homens envolvidos realizaram saques, empréstimos e compras no valor de  R$160 mil
Durante o sequestro, os homens envolvidos realizaram saques, empréstimos e compras no valor de R$160 mil |  Foto: Lucas Alvarenga
 

Duas arquitetas foram sequestradas por criminosos da 'quadrilha do pix' em Jaraguá, na Zona Norte de São Paulo. O caso aconteceu na manhã do dia 7 de junho. Na ocasião, as vítimas foram levadas para um local de mata e ficaram sob a mira de uma arma durante oito horas consecutivas, sem comer ou beber nada. 

Segundo elas, durante o sequestro, os homens envolvidos realizaram saques, empréstimos e compras no valor de  R$160 mil. Esse valor foi devolvido pelo banco.

Para realizar o golpe, os sequestradores entraram em contato com as mulheres fingindo ser um cliente, no bairro Jaraguá. Antes de se encontrarem, os homens chegaram a conversar com elas pelo aplicativo de mensagens WhatsApp, tratando de um projeto.

Contudo, relatam, ao chegarem no local, as vítimas foram rendidas pelos bandidos. 

"Nos jogaram para o banco de trás do meu carro e nos levaram para uma reserva. Um dos criminosos acompanhou a gente até dentro da mata. Nos ameaçavam o tempo todo", disse Anna Novaes, de 52 anos, em entrevista à BBC News Brasil.

Os homens tomaram os celulares das vítimas e começaram a vasculhar minuciosamente os aplicativos, exigindo que as amigas informassem as senhas.

"A primeira coisa que fizeram foi desligar a localização e rotear os telefones na internet de outro aparelho para que ele não fosse encontrado. Acessaram os aplicativos dos bancos e retiraram todo o dinheiro que conseguiram por transferências via Pix", disse a arquiteta.

Segundo Anna, cerca de quatro homens participaram da ação. Eles estavam usando máscaras cirúrgicas que logo foram removidas. Dentre os envolvidos, havia um que era chamado de 'menor' pelo resto do bando.

A mulher continuou o relato falando que os homens gastaram em torno de R$15 mil fazendo compras com os cartões de crédito delas. Os criminosos também sacaram uma quantia de R$10 mil que estava depositada na conta bancária de Anna, do Santander. Além de terem realizado um empréstimo de R$ 5 mil, que foi transferido a outra conta bancária por meio de Pix.

Ao BBC News Brasil, o banco afirmou que devolveu o dinheiro para a mulher, o que foi confirmado pela mesma.

Já no banco Itaú, os sequestradores realizaram um empréstimo de R$ 130 mil no nome de Anna, contudo, só conseguiram um valor de R$ 20 mil, já que o banco fez um bloqueio automático do valor alto. A mulher informou que o banco retornou a quantia de R$ 14 mil e estornou outros R$ 6 mil que restavam. 

Por nota, o banco afirmou que 'ao ser vítima de qualquer sinistro, o cliente, assim que possível, deve contatar o banco para bloqueio temporário de senhas, produtos ou serviços e registrar boletim de ocorrência, de modo que as autoridades competentes possam tomar as medidas necessárias'.

Sob fortes ameaças, Anna afirmou que ninguém conseguia entrar em contato com as duas, devido aos celulares estarem em modo avião.

"Se eles me perguntassem uma senha e eu falasse que não me lembrava, eles davam uma coronhada na minha cabeça, não para machucar, mas intimidar", contou Anna. "No meio da tarde, eles apareceram com uma sacola de padaria com refrigerante e pães. Nos ofereceram, mas a gente negou", disse a mulher.

Anna afirmou que um dos sequestradores questionou o fato de como elas teriam sido sequestradas, já que a quadrilha possui um 'cardápio de golpes'.

"Ele disse para a gente ficar quieta, senão a gente morreria, e desapareceu. Depois de 15 minutos, a gente se deu conta que ele tinha nos abandonado, sentadas na raiz de uma árvore enorme. A gente então caminhou um pouco para o lugar por onde achávamos que tínhamos vindo. Mas vimos uma estrada e um carro preto parado, então, falei para voltar e sentar para não dar confusão", relata a arquiteta após conseguirem escapar.

A mulher e a amiga se perderam na mata durante a fuga. Foi nessa hora que acabaram encontrando três homens.

"Um senhor disse: 'Pode sair'. Eu olhei para o lado, e tinha uma viatura da polícia. O senhor mora na região, viu os criminosos, desconfiou da movimentação e chamou a polícia. Como eles tinham olheiros, o menino que estava com a gente foi avisado, e ninguém foi preso", disse Anna. 

A quadrilha conseguiu levar alguns pertences das mulheres, entre eles dois pares de brincos de ouro e a bolsa com tudo dentro, incluindo os documentos. Anna afirmou estar completamente traumatizada após o ocorrido.

Outros crimes

De acordo com a arquiteta, a polícia já identificou que os assaltantes realizaram compras na Brasilândia, na Zona Norte de São Paulo. O delegado disse à ela que desconfia do fato de que esta quadrilha era especializada em roubos de carros, mas agora migrou para um novo golpe, que está se tornando algo frequente.

O delegado titular da 3ª Delegacia Antissequestro, da Polícia Civil, informou ao BBC News Brasil que, em 2021, o número de sequestro-relâmpago aumentou após a adesão do Pix no Brasil. Ele acrescentou que diversas quadrilhas estão migrando para essa espécie de roubo.

"A gente não chorou nem ficou descompensada. Se a gente estivesse chorando, seria pior. Ficamos tensas, sem escândalo. Eles diziam que não queriam nos machucar. Só queriam o dinheiro. Mas como foi demorando, não tínhamos como acreditar que tudo terminaria bem, pois eles estavam muito drogados. Estar na mira de alguém alterado nos deixou tensas", relatou a arquiteta.

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